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Aviso à governança europeia 

 

1.- Não foi fácil deixar o retiro da Engrade, se bem que, nos últimos dias, se tenha juntado aos filhos o meu pai que lá celebrou os seus 97 anos com a lucidez e inteligência com que sempre orientou a sua vida.

A Engrade é como descreveu Garret o Vale de Santarém “um destes lugares privilegiados pela natureza, sítios amenos e deleitosos em que as plantas, o ar, a situação, tudo está numa harmonia suavíssima e perfeita; não há ali nada grandioso nem sublime, mas há uma como simetria de cores, de sons, de disposição em tudo quanto se vê e se sente, que não parece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito e o repouso do coração devem viver ali, reinar ali um reinado de amor e benevolência. Não direi que se “imaginou por ali o Eden” pois desde há muito o povo lhe chama o céu de Abraão.

Em chegando a invernia, altera-se a harmonia da natureza e dá-se início a um novo ciclo cheio das habituais convulsões que lançam ao chão a ramagem e folhagem exuberantes da floresta e dos vinhedos.

É chegada a hora de partir e de entregar à natureza o protagonismo do ciclo vegetativo. Na loja térrea da adega, o vinho novo vai amadurer nas barricas de carvalho até ser provado e servido pelo São Martinho, como néctar delicioso que as normas europeias não conseguem proibir.

2.- O velho contraste, cada vez mais pronunciado entre o rural e o urbano, coloca-nos perante situações que não se conformam com as vivências de um e de outro.

Viagem curta de avião e um mundo completamente diferente, nervoso, agressivo e individualista, à dimensão da cidade de Ponta Delgada.

Entre o lusco-fusco, um rapaz revolvia o contentor do lixo, numa zona periférica, vasculhando alimentos para matar necessidades vitais.

Tanta terra, pasto de vacas, tanta zona verde a servir de pulmão à cidade, tanto campo à espera de plantio e sementes de legumes, cereais e frutas saborosas que há mais de século foram exportadas para  países da Europa rica.

Tudo isto merece uma séria e consequente reflexão de modo a que todos tenham o necessário!...

No centro comercial da cidade que o meu amigo Tarimba conheceu esta semana antes de voltar à Piedade, já restabelecido de uma doença que o trouxe de urgência ao Hospital do Divino, no Parque Atlântico – dizia - encontrei alguns restaurantes com preços mais caros. Num deles, a subida foi de quase 40%. “Foi por causa do aumento do IVA”, explicou-me a empregada. Como? Mas o IVA nos Açores não subiu, no continente sim. “O patrão é que disse para a gente dizer aos clientes. Eu por mim não sei nada, senhor”, atalhou a empregada, enrascada com a minha impertinência, pretendendo talvez dizer-me: “O senhor não dê cabo do meu trabalhinho, que eu não tenho outro e preciso dele”.

Na cidade, há comportamentos diferentes dos do campo. Não é usual a vizinha bater à porta para pedir um raminho de salsa, um pé de couve ou umas folhas de hortelã, mas vai sendo vulgar pedir “emprestado” um euro para comprar pão, e beber uma cerveja, um copo de vinho ou um cálice de aguardente para adoçar a vida...

E eu que afirmava, convictamente, que o mundo caminhava para uma sociedade mais perfeita, mais justa e solidária, enganei-me, redondamente, pois são evidentes os sinais de exclusão e de desigualdade sociais.

3.- O Professor Adriano Moreira cuja lucidez de análise e visão do mundo começei a admirar há uns anos, confrontou o primeiro ministro “camonista” com a necessidade de se iniciar um novo ciclo histórico e político fundado na solidariedade.

Estas utopias são próprias da juventude, mas quando vêm de um ancião nonagenário dão muito que pensar. Mário Soares já defendera proposta semelhante que abala, profundamente, o “statu quo” da economia, das finanças, da política e das relações entre as nações, e entre cidadãos e governos.

Não deixa de ser sintomático que, em Espanha, tenha renascido, rapidamente e com veemência, a questão da independência da Catalunha, sinal de que a crise das dívidas soberanas na União Europeia pode levar à fragmentação e ao desmoronamento do grande bloco político e económico que poucos pensariam poder fracassar. Tenhamos presente o que se passou na União Soviética e no Norte de África.

Quando o povo se sente penalizado e agredido nos seus direitos, mais cedo ou mais tarde, toma o poder em suas mãos e escolhe o seu destino.
Será que os donos da Europa e do capital ainda não perceberam isto?

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